Meu último conselho era prestar contas. Pregar Meu Evangelho ensina sobre esse princípio: "O princípio
da prestação de contas é fundamental no plano eterno de Deus. Todos nos
apresentaremos perante Deus no julgamento final e prestaremos contas do que
fizemos com as oportunidades que Ele nos deu. (Ver Alma 5:15-19; D&C
137:9.) Há muitas coisas que você pode aprender sobre a prestação de contas em
sua missão que irão beneficiá-lo por toda a sua vida" ("Usar o Tempo
com Sabedoria", pg. 161).
Também
é ensinado sobre esse ponto: "A prestação de contas não acontece só no
final de sua missão. É um princípio que influencia a maneira como você começa,
como pensa e como se sente a respeito da responsabilidade que lhe foi confiada,
como aborda o seu trabalho e como você persevera. O tipo de atitude que você
tem em relação às suas experiências na missão é uma expressão de seu amor pelo
Pai Celestial e Seu Filho e seu respeito pelo sacerdócio. Ao orar
individualmente e com seu companheiro, busque inspiração sobre o que deve fazer
a cada dia. Ao seguir seus planos, ore e peça a orientação do Senhor. Tenha uma
oração no coração durante todo o dia para que o Espírito o guie em todos os
lugares para onde for e em tudo o que fizer e disser. Pergunte-se: “Que mais
posso fazer?” Em sua oração no final do dia, preste contas de seu
trabalho" ("Usar o Tempo com Sabedoria", pg. 161).
Segui
esse princípio durante toda minha missão. Prestei contas a Deus e a meus
líderes. Ao avaliar meu dia nas orações noturnas pedia perdão por minhas
falhas, forças para fazer melhor, relatava minhas experiências e agradecia por
elas. Como o presidente Monson ensinou meu desempenho melhorou devido a
prestação de contas[1].
Depois
de explicar brevemente a doutrina e a importância da prestação de contas eu
dizia aos missionários o seguinte: "por favor, não pensem que o que vou
dizer agora é uma declaração orgulhosa - deixem-me explicar antes que vocês me
julguem! O que quero lhes dizer é que fui o missionário que o Senhor queria que
eu tivesse sido - ou seja, fui um missionário perfeito - realizei tudo que o
Senhor gostaria que eu tivesse realizado: falei co mas pessoas que deveria
falar, ajudei aqueles que ele determinou que eu ajudasse e fiz tudo aquilo que
devia!"
Imediatamente
depois dessa forte afirmação eu explicava que por ter me esforçado o máximo, e
prestado contas de minha obra, o Senhor, por Sua graça e misericórdia,
compensou e completou meus esforços, de modo, que, ao final da missão, pude
apresentar uma obra digna e perfeita. É claro que cometi erros durante minha
missão. Mas adquiri a convicção de que o Senhor conhecia minhas franquezas
mesmo antes de me chamar. Ele usou minhas fraquezas, assim como usou meus
talentos. Os "buracos" e falhas de meu serviço foram supridos e desapareceram,
devido ao poder de Cristo. Tive direito a esse dom porque esforcei-me o máximo.
Quando estava cansado, continuava a andar; Quando estava triste, continuava a
pregar. Devido a minha perseverança o Senhor abençoou-me.
O
missionário não precisa esperar até o final de sua missão para saber se esta
sendo um missionário de sucesso. Nem precisa saber se Deus irá aceitar seu
trabalho apenas no último dia. Busquei compreender se estava sendo um bom
missionário diariamente durante minha missão. O resultado final foi, na
verdade, a soma de todos os resultados diários. Assim, fiquei grato, mas não
supresso, quando o Senhor confirmou em meu coração que havia aceitado meu
serviço.
Tenho
que acrescentar algo aqui. Quando eu estava no final de minha missão tive
algumas revelações muito importante, que mudaram minha vida. A primeira
refere-se a uma nova perspectiva sobre um versículo de escrituras; a segunda
sobre os chamados na missão e a terceira sobre os batismos de pesquisadores.
Essas três revelações ampliaram minha visão e literalmente me salvaram.
Primeira revelação
Nos
meus últimos meses de missão lendo Doutrina e Convênios 4 - uma sessão que memorizávamos
e repetíamos em todas as nossas reuniões como missionários - ocorreu-me que eu
não estava na missão para abençoar, mas para ser abençoado. Lá diz: "Porque
eis que o campo já está branco para a ceifa; e eis que aquele que lança a sua
foice com vigor faz reserva, de modo que não perece, mas traz salvação a sua
alma" (D&C 4:4).
Percebei
que eu fora chamado para lançar minha foice com vigor, e que se eu fizesse isso
de modo adequado, faria reserva e traria salvação a minha própria alma!
Compreendi a magnitude e poder de Deus . Ele podia fazer todas as coisas, e não
precisa de mim. Ele poderia ter enviado outro missionário para ensinar e ajudar
as pessoas que encontrei. E se esse missionário não quisesse ser enviado, ele
enviaria outro - e se todos não partissem em missão - ainda assim Deus
realizaria sua obra. João Batista disse que até das pedras pode Deus suscitar
filhos de Abraão (Lucas 3:8), e o Salvador ensinou que se os homens não
clamassem, as pedras o fariam (Lucas 19:4). Deus é perfeitamente independente e
poderoso.
Assim,
cresceu em minha alma uma grande gratidão Meu Bom Deus - maior do que consigo
expressar. O Senhor fora tão bondoso que permitira que eu viesse a missão, para
salvar minha própria alma. E porque eu me esforçara o máximo, usando todo meu
coração, poder, mente e força para abençoar os outros - fora abençoado.
Encontrei salvação, quando perdi a vida procurando salvar o próximo.
Esse
principio não pode ser aprendido apenas pela mente. Deve ser vivido e sentido
no coração. Eu não tinha esperança que os missionários no Centro de Treinamento
Missionário que me ouvissem compreendessem tudo o que eu aprendera por intima
revelação.
Mesmos
assim, eu queria que elas soubessem que se eu, indigna criatura, um ser fraco e
imperfeito, fora abençoado com tal dádiva eles também o seriam.
Segunda Revelação
Como me
tornei um líder na missão muito rapidamente, isto é, como recebi designações de
liderança mais rápido do que outros missionários tive a impressão que os
chamados eram consequência exclusiva de minha retidão e brilhantismo pessoal.
Quando
tinha nove meses de missão eu era um Líder de Zona e pensei: "Bem, o
próximo cargo é o de Assistente do Presidente de Missão. Então, daqui a algum
tempo serei chamado Assistente!"
Eu
havia feito uma meta com o Senhor antes de partir para missão, e essa meta era
a de me tornar o melhor missionário. Eu queria atingir meu pleno potencial.
Quando firmei esse convênio eu nem imaginava em chamados de liderança no campo
missionário. Mas quando eu cheguei na missão percebi que meus companheiros
admiravam os líderes e consideravam que a posição deles lhes adveio por serem
excelentes missionários. Assim, ocorreu-me que eu só poderia cumprir meu pacto
se me tornasse assistente do presidente.
É claro
que isso não era algo que me impelia a cumprir meu propósito e nem que ocupava
minha mente com frequência, principalmente no primeiro ano como missionário. Eu
entendia (ou pensava que entendia) que o chamado de missionário de tempo
integral, era superior a posição de liderança no campo.
Mas
quando completei um ano de missão e depois percebi que talvez não me tornasse assistente
do presidente. Na realidade havia uma contradição nesta época. Eu adorava
pregar o evangelho nas ruas, e torna-me assistente iria restringir esse
privilégio - pois os assistentes recebem vários encargos administrativos. E a
última coisa que queria era ficar trancado em um escritório.
Certo
dia, enquanto meditava sobre meu compromisso de tornar-me o melhor missionário
e meus chamados no campo li uma passagem no novo testamento. Eu já a lera
antes, mas dessa vez, pelo poder do Espírito, a passagem foi adaptada para
minhas necessidades e seus princípios deram-me uma nova perspectiva:
"Porque,
assim como [a missão] é [uma], e tem muitos [missionários], e todos os
[missionários], sendo muitos, são um só [missão], assim é Cristo também.
Pois
todos nós fomos batizados em um Espírito [e chamados por um profeta de Deus],
formando [uma missão], (...) e todos temos bebido de um Espírito.
Porque
também [a missão] não é um só [missionário], mas muitos.
Se o
[missionário junior] disser: Porque não sou [companheiro sênior], não sou [da
missão]; não será por isso [da missão]?
E se a
[o líder de zona] disser: Porque não sou [assistente do presidente] não sou [da
missão]; não será por isso [da missão]?
Se todo
o corpo fosse [assistente], onde estaria o [o líder de zona]? Se todo fosse
[líder de zona], onde estaria o [líder de distrito]?
Mas
agora Deus colocou os [missionários da missão], cada um deles como quis.E, se
todos fossem um só [missionário], onde estaria [a missão]?
Assim,
pois, há muitos [missionários], mas [uma só missão].
E o
[assistente do presidente] não pode dizer [ao companheiro sênior]: Não tenho
necessidade de ti; nem ainda [o presidente da missão] aos [companheiros
juniores]: Não tenho necessidade de vós.
Antes,
os [missionários da missão] que parecem ser os mais fracos são necessários; E
os que reputamos serem menos honrosos [na missão], a esses honramos muito mais;
e aos que em nós são menos decorosos damos muito mais honra.
Porque
os que em nós são mais nobres não têm necessidade disso, mas Deus assim formou [a
missão], dando muito mais honra ao que tinha falta dela; Para que não haja
divisão [na missão], mas antes tenham os [missionários] igual cuidado uns dos
outros. De maneira que, se um [missionário] padece, todos os [missionário] padecem
com ele; e, se um [missionário] é honrado, todos os [missionários] se regozijam
com ele.
Ora, vós sois [uma missão estabelecida por] Cristo, e seus [missionários]
em particular." (1 Coríntios 12:12-27)
O
Espírito planto em mim a verdade de que não importa onde se serve, mas sim como
se serve. Meu chamado era o de um membro do corpo de Cristo, ou um missionário
da missão. Se eu era orelha, pé, olho - não importava - eu era privilegiado por
fazer parte da missão como um missionário de tempo integral. Deus colocou cada
missionário na posição que quis. E bastava-me saber que eu poderia ser um
missionário de sucesso e cumprir meu convênio independentemente da posição de
liderança que eu assumisse enquanto missionário.
Fiquei
tão grato por aprender essa lição. Ele me trouxe paz, e mostrou-me que o
sucesso não depende da posição ou honra. De fato, eu conhecera vários
missionários que serviram como líderes e não eram tão diligentes no cumprimento
de certas regras, como as de estudo, horário, etc.
Depois
que aprendi essa lição o Senhor chamou-me como assistente do presidente de
missão. Felizmente eu não era assistente de escritório - sendo chamado como
assistente viajante para poder pregar o evangelho e ensinar meus amigos
missionários em todas as partes da vinha. Mas mesmo que eu não fosse chamado
saberia que poderia ser o melhor missionário. A corrida, evidente, não era
contra os outros - era contra eu mesmo.
Terceira Revelação.
Quando
faltavam seis meses para que eu terminasse a minha missão fiz uma meta de
batismos. Orei e fiz um convênio com o Senhor. Passei a jejuar duas vezes por
semana, e depois, uma vez por semana[2].
Uma
advertência: não é conveniente jejuar mais do que uma vez por mês, a não ser em
casos atípicos e necessários. A regra do manual missionário é bem clara. Mas
naquela ocasião eu supus que seria adequado fazer um sacrifício maior.
Além
dos jejuns eu dobrei os meus esforços. Fazia muito mais contatos - alguns dias
- dez vezes mais do que eu fazia normalmente.
Conto
essas cosias para demonstrar que eu estava disposto a alcançar a meta que eu
fizera de batismos. Eu sabia que o Senhor sempre cumpria a sua parte, e que
respondia de acordo com nossos desejos justos. Sabia também que ponto central
do meu propósito como missionário era batizar e confirmar.
Mas
adivinhem - consegui cumprir minha meta de batismos? Eu queria poder dizer que
sim, mas a resposta é não. Agora imagine, se puder, como eu estava me sentindo
no final de minha missão. Eu fizera a meta de ser o melhor missionário e fizera
a meta de batizar um determinado numero de lamas, mas eu falhara. Não fora Deus
que falhara, por que Ele não falha. Fiquei desanimado.
Eu
escolhera e pedira para ficar um mês a mais na missão. Foi-me permitido. Então
na última semana em que eu estava na missão Elder David A. Bednar, um dos Doze
Apóstolos, veio visitar nossa missão. Isso foi estranho porque dentro de uma ou
duas semanas várias Autoridades viriam à Curitiba para dedicação do Templo,
inclusive teríamos um serão com o Presidente Monson. Além disso várias
Autoridades Gerias já haviam passado recentemente em Curitiba.
Na
ocasião em que Élder Bednar veio, ele falou a toda missão, mas pareceu-me que
estava falando diretamente e exclusivamente a mim. Durante a mensagem dele ele
ensinou que o sucesso de um missionário não depende do número de batismos. Ele
citou Alma 26:22:
"
Sim, aquele que se arrepende e exercita a fé e faz boas obras e ora
continuamente sem cessar - a esse é permitido conhecer os mistérios de Deus;
sim, e a esse será permitido revelar coisas nunca antes reveladas; sim, a esse
será permitido levar milhares de almas ao arrependimento, assim como a nós nos
foi permitido levar estes nossos irmãos ao arrependimento."
Ele então demonstrou que um
missionário pode fazer todas essas coisas - arrepender-se, exercitar fé, fazer
boas obras e orar continuamente sem cessar - e ainda sim não batizar. Porque,
disse ele, esquecemos que a escritura não é como uma receita - juntamos todos
os ingredientes e temos o batismo de milhares. Era isso que eu pensava. Mas
ele, Elder Bednar mostrou uma palavra negligenciada: "será
permitido". A concessão do Senhor é fundamental. Ademais o batismo é uma
questão de arbítrio. O pesquisador pode sentir
que a Igreja é verdadeira mas decidir
não se batizar. Ele tem o arbítrio!
Elder
Bednar perguntou o que o missionário pode fazer para ajudar os pesquisadores
então? Um missionário respondeu orar e outro jejuar. Levantei a mão e respondi
convidar o pesquisador a cumprir um compromisso. Elder Bednar pediu que eu
ficasse em pé. Ele disse que a resposta dos outros missionários haviam sido
boas, mas que não fariam com que o pesquisador desenvolve-se fé. A minha
reposta, porém, faria com que o pesquisador agisse e pudesse receber, caso
escolhesse seguir nosso convite, a confirmação da verdade e ter mais forças
para escolher o batismo.
Elder
Bednar ensinou muitas outras coisas naquele dia. Ele salvou minha vida, pois
entendi que meu sucesso como missionário não dependia de resultados exteriores,
como o numero de batismos. Lembre-me que Amon e seus irmãos batizaram milhares,
mas que Abinádi não tivera tal resultado - todos porém foram aceitos por Deus
como grandes profetas.
Assim,
devido a meus esforços, a graça do Senhor me foi suficiente e me bastou.
Quando
voltei para casa fui o mais rápido possível no Templo. O Senhor confirmou que
aceitara minha missão. Quando lhe prestei contas tive um sentimento de paz e
alegria e soube que atingira minha meta, cumprira meu convênio com Ele.
Sei que
todos os missionários que trabalharem o máximo receberão o mesmo tipo de
confirmação. Quão grato sou pelo meu bom Deus e por tudo que aconteceu em minha
missão. Sei que aqueles que prestam contas a seus líderes e a Deus são
missionários de sucesso e receberam dádivas muito altas.
[1]
“Quando o desempenho é avaliado, ele melhora. Quando se avalia o desempenho e
se presta contas dele, ele melhora ainda mais rapidamente”. (Presidente Monson,
PME, "Usar o Tempo com
Sabedoria, pg. 161)
[2]
Depois de alguns meses jejuando duas vezes por semana, em uma das áreas mais
quentes da missão em pleno verão, meu presidente descobriu sobre meus jejuns.
Ele me proibiu de jejuar duas vezes por receio de que eu perdesse a saúde.
Implorei para que pelo menos eu pudesse jejuar uma vez por semana. Ele
permitiu, vendo minha determinação.
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