O primeiro conselho é o primeiro por uma razão
muito simples: é o mais importante. Sem uma compreensão de que o chamado vem de
Deus, o missionário erra, falha, fica desmotivado, peca e abandona seu serviço.
Ao contrário, um missionário que sabe que foi chamado por Deus torna-se um
instrumento poderoso para realizar maravilhas, cumprir profecias, converter àss
trevas em luz, erguer os fracos, dar visão aos cegos e salvar muitas almas pelo
graça de Cristo.
Doutrina do Chamado
Quando eu entrava numas das salas do CTM, na primeira
aula, observava atentamente os missionários, cumprimentava-os e perguntava-lhes
o nome e motivo pelo qual haviam decidido servir. Às vezes eu também perguntava
se tinham alguma irmã ou prima bonita para eu conhecer, visto que era solteiro
na época... Claro que fala isso brincando! Mas embora eu procurasse ser
bem-humorado e descontraído, eu sabia quem aqueles rapazes e moças eram servos
de Deus, chamados por Ele, para realizar Sua Obra. Isso era algo muito sério,
que eu levava muito a sério - e queria que eles também assim considerassem.
Aqueles jovens (e os casais de idosos que ensinei)
haviam sido chamados por Deus (1) dês da
fundação do mundo, na vida pré-mortal; eles haviam sido (2) batizados e feito
um solene convênio de ser testemunhas de Deus; (3) todos pertenciam a família
de Abraão, quer fossem descendentes literais ou adotados - e com isso tinham o
encargo de convidar todos os homens à Cristo; os rapazes haviam (4) recebido o
Sacerdócio - e como tal era-lhes inerente o encargo de divulgar a verdade e
realizar ordenanças de salvação; e todos, sem exceção, haviam sido (5) chamados
por um profeta, por meio de revelação direta e recebido autoridade para pregar
o evangelho através de imposição de mãos.
A doutrina do chamado missionário é rica. Darei
apenas um esboço a seguir sobre ela. É útil que você estude as escrituras e os
manuais da Igreja procurando entender melhor as cosias que explicarei a seguir.
O chamado missionário tem sua origem na vida pré-mortal[1].
Lá "mesmo antes de nascerem, eles [os missionários], com muitos outros,
receberam suas primeiras lições no mundo dos espíritos e foram preparados para
nascer no devido tempo do Senhor, a fim de trabalharem em sua vinha para a
salvação da alma dos homens" (D&C 138:56). Você pode não acreditar,
mas Deus determinou onde você nasceria (Deuteronômios 32:8, Atos 17:26), quais
situações e circunstâncias passaria - e moldou seu caminho para que um dia você
cumprisse sua pré-ordenação pré-mortal (Alma 13:2-7, GEE "Preordenação"). Assim, você não é um missionário por
acaso. Tudo faz parte de um grande e Glorioso Plano.
É bem verdade que dês do seu batismo você é um
missionário. Porque "todo aquele que for advertido deverá advertir seu
próximo" (D&C 88:81). E você fez convênio de "servir de
[testemunha] de Deus em todos os momentos e em todas as coisas e em todos os
lugares em que vos encontreis, mesmo até a morte" (Mosias 18:9). Você deve
lembrar do brocado: "todo membro é um missionário"[2].
Pois é. Depois do batismo, em certo sentido, esta feito o chamado missionário!
Quando você foi batizado também confirmou sua
descendência de Abraão. Isso tem imenso significado. Como descente de Abraão
você herda certas responsabilidades e bênçãos[3].
Você pode descobrir quais são elas ao ler com atenção Abraão 2:9-11 (dica:
procure algo relacionado a tornar-se um missionário!)
Se você é homem, foi ordenado ao Sacerdócio ao ofício
de sacerdote ou élder. Um élder é um pregador da retidão, um ministro do
evangelho por excelência. "Batizar é seu chamado" (D&C 20:38). A
ele também "cabe administrar nos assuntos espirituais, conforme os
convênios e mandamentos da igreja" (D&C 107:12)
Mas apesar de todos esses chamados (preordenação, responsabilidade como membro
da Igreja, encargo como filho da promessa e dever do sacerdócio) há um chamado (em sentido estrito, podemos
dizer) para servir como missionário de tempo integral. E isso faz parte de suas
designações na vida pré-mortal. O chamado de missionário de tempo integral
significa representar o Senhor Jesus Cristo e Sua Igreja, por dois anos ou um
ano e meio, em um determinado lugar do mundo, submetendo-se as regras e
procedimentos da Igreja, tornando-se um ministro oficial. Depois desse tempo de
serviço, o rapaz ou moça devem continuar sendo missionários pela vida toda[4],
mas não mais precisarão viajar, usar uma plaqueta identificadora e viver as
regras de uma missão - tais como as de horário, comportamento e estudo.
Chamado missionário para serviço de tempo-integral
O processo para se tornar um missionário de tempo
integral é o seguinte[5]:
o rapaz solteiro de dezenove anos de idade, ou a moça solteira de vinte e um
anos de idade (ou o casal missionário), faz uma entrevista com os líderes
eclesiásticos locais e expressa seu
desejo de servir como missionário(a). Papeis são preenchidos, exames médicos
são realizados, autorizações são concedidas
e o formulário é enviado para sede da Igreja, nos Estados Unidos. A
Igreja possui um comitê missionário que contém menos três Apóstolos. O chamado
missionário é feito por esses profetas. Depois do que o Presidente da Igreja
assina e ratifica os chamados. Eles são enviados para a casa dos jovens (ou
casal idoso) com informações sobre a parte do mundo (missão) que servirão. O
Presidente de Estaca da localidade designa o jovem (ou casal idoso) como missionário
de tempo integral, depois do que "o chamado missionário começa".
O Élder Ronald A. Rasband, que é da Presidência dos
Setenta, contou uma interessante experiência em uma Conferência Geral,
explicando como foi sua experiência em participar do processo de chamados
missionários: "Com o incentivo e a permissão do Presidente Henry B.
Eyring, gostaria de relatar-lhes uma experiência pessoal, muito especial para
mim, que tive com ele há vários anos, quando ele era membro do Quórum dos Doze.
Todo apóstolo possui as chaves do reino e as exerce sob a direção e designação
do Presidente da Igreja. O Élder Eyring estava designando missionários para o
campo de trabalho e, como parte de meu treinamento, fui convidado a observar. Reuni-me
com o Élder Eyring cedo, certa manhã, em uma sala onde várias telas grandes de
computador estavam preparadas para a sessão. Havia também um funcionário do
Departamento Missionário indicado para ajudar-nos naquele dia. Inicialmente,
ajoelhamo-nos todos
em oração. Lembro-me do Élder
Eyring usando palavras muito sinceras, pedindo ao Senhor que o abençoasse para
saber “perfeitamente” para onde os missionários deveriam ser enviados. A
palavra “perfeitamente” dizia muito com referência à fé que o Élder Eyring demonstrava
naquele dia.
Ao iniciar-se o processo, uma fotografia do
missionário a ser enviado aparecia em uma das telas do computador. Quando cada
foto aparecia, era para mim como se o missionário estivesse na sala conosco. O élder
Eyring, então, cumprimentava o missionário com sua voz bondosa e cativante: “Bom
dia, Élder Silva ou Síster Junqueira. Como vai hoje?” Ele me disse que gostava
de ponderar sobre onde o missionário realizaria sua missão. Isso o ajudaria a
saber para onde deveriam ser enviados. O Élder Eyring estudava, então, os
comentários dos bispos e presidentes de estaca, as anotações médicas e outras questões
relativas a cada missionário.
Encaminhava-se, então, para outra tela que
apresentava áreas e missões do mundo inteiro. Finalmente, conforme era guiado
pelo Espírito, ele designava o missionário para seu campo de trabalho. De
outros membros dos Doze, fiquei sabendo que esse método geral é utilizado todas
as semanas, à medida que os apóstolos do Senhor designam inúmeros missionários
para servir no mundo inteiro.
Tendo servido como missionário em meu próprio país,
na Missão dos Estados do Leste dos Estados Unidos, havia vários anos, fiquei
extremamente emocionado com essa experiência. Além disso, tendo servido como
presidente de missão, senti-me grato por receber no coração um testemunho adicional
de que os missionários que recebi na cidade de Nova York tinham me sido
enviados por revelação.
Depois de designar alguns missionários, o Élder
Eyring virou-se para
mim, enquanto ponderava
quanto a determinado missionário e disse: “Então, irmão Rasband, para onde acha
que esse missionário deve ir?” Fiquei surpreso! Sugeri em voz baixa ao Élder
Eyring que eu não sabia e que não sabia como poderia saber. Ele olhou-me
diretamente e disse apenas: “Irmão Rasband, preste mais atenção, e você também
poderá saber!” Com isso, empurrei minha cadeira para um pouco mais perto do
Élder Eyring e da tela do computador e realmente prestei muito mais atenção!
Enquanto o processo prosseguia, algumas outras vezes
o Élder Eyring se voltou para mim e disse: “Bem, irmão Rasband, para onde acha
que este missionário deve ir?” Eu indicava uma determinada missão, e Élder
Eyring olhava para mim pensativamente e dizia: “Não, não é essa!” Ele, então,
continuava a designar os missionários para onde havia sido inspirado a
enviá-los.
Quando estávamos nos aproximando do fim daquela
reunião de designações, apareceu na tela a fotografia de certo missionário.
Senti uma forte inspiração, a mais forte de toda a manhã, de que o missionário
que tínhamos diante de nós deveria ser enviado para o Japão. Eu não sabia que o
Élder Eyring ia perguntar-me a respeito daquele missionário, mas, surpreendentemente,
ele o fez. Com bastante hesitação e humildade, eu lhe disse: “Japão?” O Élder
Eyring respondeu imediatamente: “Sim, vamos para
lá”. As missões do Japão
apareceram na tela do computador. Eu soube imediatamente que o missionário
deveria ir para a Missão Japão Sapporo. O Élder Eyring não me perguntou o nome
exato da missão, mas designou aquele missionário para a Missão Japão Sapporo. No
fundo de meu coração, fiquei profundamente tocado e grato ao Senhor por
permitir-me sentir a inspiração de saber para onde o missionário deveria ir.
Ao término da reunião, o Élder Eyring prestou-me seu
testemunho do amor que o Salvador tem pelos missionários designados a ir pelo
mundo para pregar o evangelho restaurado. Ele disse que é devido ao grande amor
do Salvador que Seus servos
sabem onde esses maravilhosos rapazes e moças, missionários seniores e casais de
missionários mais idosos devem servir. Naquela manhã, recebi mais um testemunho
de que todo missionário chamado nesta Igreja, sendo designado ou transferido
para determinada missão, é chamado por revelação do Senhor Deus Todo-Poderoso
por meio
de um desses Seus servos."
("O Divino Chamado de um Missionário", A Liahona, Maio de 2010, pg. 52-53)
Quão grato sou por saber que essas palavras são
verdadeiras. Sim, porque eu também sei que todo missionário é "chamado por
Deus por profecia e pela imposição de mãos, por quem possua autoridade, para
pregar o Evangelho e administrar suas ordenanças" (5a
Regras de Fé).
Compreender a origem do chamado
Um missionário que compreende a origem de seu chamado
será bem-sucedido. Fato.
Eu vi isso desde o CTM. Em primeiro lugar é preciso
dizer que no CTM chegam todas as semanas diversos tipos de missionários. São na
verdade, rapazes e moças que, além de virem de culturas e regiões diversas,
encontram-se em nível espiritual desigual. Alguns possuem um forte e poderoso
testemunho da Restauração, outros estão lá por tradição familiar, para cumprir
um dever, para conseguir casar com alguém adorável no futuro, para viver uma
aventura, para escapar do lar, para aprender um novo idioma, etc. A maioria não
compreende completamente a extensão e poder de seu chamado. Muitos não entendem
que literalmente foram chamados por
Deus.
Paulo reconheceu: "Verdade é que também alguns
pregam a Cristo até por inveja e porfia, mas outros de boa vontade; Uns, na
verdade, anunciam a Cristo por contenção, não puramente, julgando acrescentar
aflição às minhas prisões. Mas outros, por amor, sabendo que fui posto para
defesa do evangelho. Mas que importa?
Contanto que Cristo seja anunciado de toda maneira, ou com fingimento ou em
verdade, nisto me regozijo, e me regozijarei ainda" (Filipenses
1:15-18, itálicos adicionados)
É assim, e foi assim dês dos primórdio. O requisito
para ser um missionário não é o conhecimento perfeito da origem de seu chamado.
O Senhor disse: "E se tendes o desejo
de servir a Deus, sois chamados ao trabalho" (D&C 4:3, itálicos
adicionados). Entretanto, os desafios do ministério, exigirão, mais cedo ou
mais tarde, a compreensão inequívoca de que Deus chama e qualifica seus servos.
Quando a concepção da procedência do santo encargo vier o desejo se fortalecerá
e a disposição para servir com "todo coração, poder, mente
força" surgirá em seguida.
Mas então, como
compreender a origem sagrada do chamado missionário? Eu tinha essa pergunta
em mente ao lidar com os missionários que ensinava. Na verdade a pergunta era:
"Como posso ajudar esses missionários a entenderem a origem sagrada de seu
chamado?"
Ponderava frequentemente em minhas próprias
experiências como missionário de tempo integral. Notei que meu entendimento
sobre esse assunto era uma consequência direta de experiências espirituais que
eu tivera. Assim, me esforçava para criar um ambiente espiritual no qual os
missionários poderiam receber manifestações espirituais e saber que Deus estava
com eles - que os chamara e que os abençoaria.
A história de Amon e seus irmãos
Ao contar isso, lembrei da história de Amon e seus
irmãos - um dos grupos mais poderosos e eficazes de missionários de todos os
tempos. Eu contava a história deles aos missionários também e insistia para que
ela fosse estudada. A história deles começa no final do livro de Mosias e se
estende até a metade do livro de Alma.
Amon, Aarão, Ômner, Hímní eram filhos do rei e
profeta Mosias. Eles quatro e mais alguns desejavam que “a salvação fosse
declarada a toda criatura, porque não podiam suportar que qualquer alma humana
se perdesse; e até mesmo a idéia de que alguma alma tivesse que sofrer o
tormento eterno fazia-os tremer e estremecer”. O desejo dos filhos de Mosias
era de pregar aos inimigos: os lamanitas! Quando um nefita era apanhado pelos
lamanitas era natural que eles o agarrassem, amarrassem e levassem a presença
do rei ou chefe – “e assim ficava a critério do rei matá-los ou retê-los
cativos ou mandá-los para prisão ou desterrá-los, segundo sua vontade e
prazer.” (Alma 17:20) Perceba que a opção “ficar livre”, se “tornar amigo” ou
“morar conosco” não existia para um nefita entre lamanitas – a menos que
renunciasse o nome de Néfi, e se tornasse, a semelhança dos anlicitas , um
inimigo nefita.
Não é de se admirar, portanto, que quando Amon e seus
irmãos apresentaram essa seu estranho desejo a seu povo, ouviram: “Supondes que
podeis levar os lamanitas a conhecer a verdade? Supondes que podeis convencer
os lamanitas da incorreção das tradições de seus pais, quando são um povo
obstinado, cujo coração se deleita no derramamento de sangue, cujos dias foram
passados na mais vil iniquidade, cujas sendas têm sido as sendas do
transgressor dês do início?” (Alma 26:24) E também ouviram: “Peguemos em armas
contra eles para exterminá-los da terra juntamente com suas iniquidades (...)”
(Alma 26:25).
Para lembrar você, Lamã, Lemuel, os filhos de Ismael
e suas famílias foram todos afastados da presença do Senhor, por não seguirem o
profeta Néfi (2 Néfi 5:20). Os lamanitas se tornaram um povo amaldiçoado – pois
não tinham as bênçãos do evangelho. “E por causa da maldição que caiu sobre
eles, tornaram-se um povo preguiçoso, cheio de maldade e astúcia e procuravam
animais de caça no deserto. E o Senhor disse: Eles serão um castigo [para os
nefitas] a fim de [que] se lembrem de mim (...)” (2 Néfi 5:25).
Lemos em Enos que os lamanitas eram um povo selvagem
e sanguinário e que os esforços nefitas para levá-los a verdadeira fé em Deus
eram vãos (Enos 1:20). Em Mosias vemos o relato de Zênife, que com muitos
nefitas, foi habitar próximo aos lamanitas. Contudo ele foi enganado pelos
lamanitas (Mosias 9:10). O filho de Zênife, Noé foi um rei iníquo que acabou
levando o povo ao cativeiro, pelos lamanitas. “E se não fosse a interferência
do sábio Criador” teriam perecido (Mosias 29:20). Os nefitas tinham muitos
motivos para odiar os lamanitas. Haviam tentado muitas vezes reconduzi-los, mas
tudo parecera vão. Centenas de nefitas já haviam morrido nas numerosas
batalhas. O povo nefita estava “grandemente aflito pela perda de seus irmãos e
também pela perda de seus rebanhos e manadas, e também pela perda de seus
campos de cereais, que haviam sido pisados e destruídos pelos lamanitas” (Alma
4:2).
Além disso, os filhos de Mosias tinham o direito,
como príncipes dos nefitas, a governarem. De fato, o rei Mosias estava para
deixar o reino para um de seus herdeiros.
Que grande pressão não foi então para Amon e seus
irmãos partir em missão! Todos pareciam desmotivá-los. Porque Amon e seus
irmãos queriam ser missionários entre os lamanitas?
“Ora, eles desejavam que a salvação fosse declarada a
toda criatura, porque não podiam suportar que qualquer alma humana se perdesse;
e até mesmo a idéia de que alguma alma tivesse que sofrer o tormento eterno
fazia-os tremer e estremecer. E assim
agia o Espírito do Senhor sobre eles, por que eram os mais vis pecadores. E
o Senhor, em sua infinita misericórdia, julgou prudente poupá-los” (Mosias
28:3-4, itálicos adicionados)
Pela história de Alma, o filho, e Amon e seus irmãos
vemos que eles eram rebeldes e procuravam destruir a Igreja de Deus. Contudo
sofreram muita angústia por causa de suas iniquidades, e temeram ser lançados
fora para sempre. Após arrependimento sincero, que incluiu a viajem por toda a
terra de “Zaraenla e entre todo povo” para restituírem os males que haviam
cometido (Mosias 27:35), eles desejaram proclamar as boas novas aos inimigos.
E isso fizeram porque o Espírito do Senhor agiu sobre eles. Antes de pregarmos o
evangelho ao mundo é melhor que permitamos que o Espírito nos conceda um
testemunho. De fato Deus nós tem convidado:
“Eis que vos digo que o bom pastor vós chama” (Alma
5:38) “Eis que ele envia um convite a todos os homens, pois os braços de
misericórdia lhes estão estendidos e ele diz: Arrependei-vos e receber-vos-ei.
Sim, diz ele, vinde a mim e participeis do fruto da árvore da vida; sim,
comereis e bebereis livremente do pão e da água da vida. Sim vinde e apresentai
obras de retidão; e não sereis cortados e lançados ao fogo.” (Alma 5:33-35)
“Vinde e não temais; e deixai de lado todos os pecados que facilmente vos
envolvem, que vos amarram e conduzem à destruição, sim, adiantai-vos e mostrai
a vosso Deus que desejais arrepender-vos de vossos pecados e fazer com ele um
convênio de guardar seus mandamentos; e testemunhai-lhe isso hoje, entrando nas
águas do batismo.” (Alma7:15)
Para que o Espírito revele-se a nós, como revelou-se
a Amon e seus irmãos devemos[6]:
1. aceitar o convite de ir à Cristo
2. não temer e desejar fazer convênios com Deus
3. arrepender-se: deixar de lado todos os pecados
4. ser batizado e confirmado, recebendo o dom do Espírito
Santo
5. praticar obras de retidão (que inclui pregar o evangelho)
Lembre-se que você
não pode convidar as pessoas a achegarem-se a Cristo sem ter aceitado esse
convite antes: “Vocês não podem converter as pessoas além de seu próprio
grau de conversão” (Presidente Faust, PME pg. 197).
Amon e seus irmãos estavam convertidos. Como Pedro e
João eles não podiam “deixar de falar” do que viram e ouviram, mesmo em perigo
(Atos 4:20).
Se alguém não sentem desejo de fazer obra missionária
pode-se saber que sua conversão à verdade é muito frágil. Aceitar o convite de
ir a Cristo, não temer e desejar fazer convênios com Deus, arrepender-se
(deixando de lado todos os pecados), fazer convênios com Deus, receber o
Espírito Santo e praticar obras de retidão ao perseverar é a melhor solução
para fortalecer os desejo de pregar a toda criatura.
A coisa mais importante que se pode dizer sobre o que
Amon e seus irmãos sentiram, que os fez passar pela grande mudança de coração e
fazer a obra missionária (aceitando seu chamado divino) – e o verdadeiro motivo
pelo qual também devemos fazer obra missionária – é por Caridade, que é o “puro
amor de Cristo” (Morôni 7:47).
Desânimo e Desafios
Agora observe que quando Amon e seus irmão estavam no
CTM... Certo, eles não passaram por um CTM, não como o que temos atualmente.
Mas eles passaram alguns dias se preparando. Esse local era um deserto que
separava a terra dos nefitas da dos lamanitas. Pois bem, esse deserto foi o CTM
deles. Claro que os Centros de Treinamento Missionários hoje são muito mais
confortáveis que um deserto. As acomodações de hoje são excelentes e a comida
farta. Entretanto, chamo o deserto em que Amon e seus irmãos ficaram de CTM
porque eles estavam longe de suas famílias, longe de suas terras e prestes a
entrar no campo missionário.
Amon e seus irmãos partiram “despediram-se de seu pai
Mosias no primeiro ano dos juízes” (Alma 17:6) e ficaram quatorze anos entre os
lamanitas (Alma 17:4) - uma missão bem
longa, não é? Mas o que quero mostrar é que Amon e seus irmãos não viram mais seu pai, pois quando
voltaram o rei já estava morto. Alguns podem supor que Amon e seus irmãos
tenham esperado seu pai morrer, pois o rei Mosias governou até o fim de seus
dias (Mosias 29:11), e Amon e os outros só partiram no primeiro ano do governo
dos juízes. Contudo é mais provável que a ordem dos acontecimentos seja esta:
(1) Amon e seus irmãos se despedem de seu pai Mosias; (2) Mosias propõem uma
nova forma de governo; (3) Mosias morre; (4) inicia-se o governo dos juízes.
Tudo isso no mesmo ano.
Deve ser assim pois somos informados que Amon e seus
irmãos haviam “subido para a terra de Néfi, de modo que o rei não podia
[conferir-lhes] o reino (...)” (Mosias 29:2-3). Ou seja, o rei estava vivo, com
pouco mais de 72 anos, quando seus filhos partiram. Poucos meses depois ele
morreu (Mosias 29:46). Esse fato pode ter sido revelado aos filhos de Mosias
enquanto estavam no deserto, indo aos lamanitas. E se foi assim certamente
contribuiu para que seu “coração se [achasse] deprimido” e quisessem “voltar”,
mas o Senhor os confortou (Mosias 26:27).
Veja só: Amon e seus irmãos - os grandes
missionários, que realizaram tantos milagres e batizaram milhares - deprimidos,
a ponto de voltar para casa e desistir. Vi vários missionários passarem por
essa situação. Às vezes era o confinamento no CTM, a rotina puxada de estudos,
a saudade da família ou da namorada, o difícil relacionamento com um
companheiro de hábitos estranhos, as tentações do demônio, o peso da
responsabilidade, etc. Em algum momento o missionário passa por testes
emocionais e espirituais que lhe fazem ficar triste, talvez até desanimado e
desesperançoso.
Eu passei por algo assim. Entretanto, tal como os
filhos de Mosias quando meu corações se achava deprimido eis que o Senhor me
confortou e confirmou em minha alma meu chamado. Senti que ele estava comigo e
me ajudaria. Testifico que todo missionário que buscar essa confirmação a
receberá. Vi vários missionários receberem uma investidura celestial de poder,
ao buscarem com humildade e fervor o Senhor.
Quero acrescentar algo antes de terminar esse
capítulo. Quando o Presidente Gordon B. Hinckley era um jovem missionário na
Inglaterra, ele se sentiu muito desanimado. “[Ele] escreveu uma carta para seu
pai e disse que sentia estar desperdiçando o tempo e o dinheiro dele. Além de
pai, era o seu presidente da estaca, Bryant Hinckley escreveu-lhe uma carta
curta dizendo: ‘Querido Gordon, tenho em mãos a carta que você me enviou
recentemente. Tenho apenas uma sugestão: Esqueça-se de si mesmo e trabalhe’”. (Sheri L. Dew, Go Forward With Faith: The Biography of
Gordon B. Hinckley [1996}, p. 64).
O jovem Gordon B. Hinckley seguiu o conselho de seu
pai. Esqueceu-se de si mesmo e perdeu-se na obra. O que seu pai fez na verdade
foi lembrá-lo de seu chamado como missionário. O Espírito confirmou essas
palavras no coração do jovem, trazendo os frutos de esperança, amor e fé. Ele
contou:
"Segurando a correspondência de meu pai, entrei
em nosso quarto na casa número 15 da rua Wadham onde morávamos, ajoelhei-me e
fiz uma promessa ao Senhor. Fiz convênio de que tentaria esquecer-me de mim
mesmo e perder-me em Seu serviço. Aquele dia de julho de 1933 foi decisivo para
mim. Uma nova luz entrou em minha vida e uma nova alegria tomou-me o coração. A
neblina da Inglaterra pareceu dissipar-se e vi a luz do sol. Minha experiência
na missão foi rica e maravilhosa, e serei eternamente grato por ela.” (Teachings of Gordon B. Hinckley, p. 350)
Frutos
Percebi que os missionários que entendem a origem do
seu chamado são abençoados simultaneamente de três maneiras principais:
1- Os missionários que crêem ter sido chamados por
Deus compreendem que tem direito aos dons e privilégios necessários para
perfeita execução de seu oficio e agem com poder em todos os assuntos e
situações.
2- Os missionários que entendem que Deus lhes chamou
são cheios de "amor à Deus e a todos os homens", são humildes,
modestos, diligentes e procuram desenvolver os atributos de Cristo.
3- Os missionários que sabem que Deus os chamou lidam
com as pressões, tentações e desafios com coragem, destemor, esperança e
brilho.
Quando compreendi a origem de meu chamado como
missionário recebi uma coragem maior do que eu jamais tivera. Não tinha medo de
nada, posso lhes dizer - a não ser o de desagradar a Deus. Olhava nos olhos de
todas as pessoas. Não tinha medo de cachorros, ladrões ou demônios. Minha
coragem era tal, e minha confiança no Senhor tão grande, que se o próprio diabo
se colocasse entre a mensagem divina que eu carregava e um pesquisador disposto
a ouvi-la eu expulsaria o demônio e continuaria meu trabalho. Eu não tinha medo
de entrar em becos, andar quilômetros ou desafiar pessoas, que estavam
fortemente presas a vícios e falsas tradições a cumprirem os mandamentos de
Deus. Não tinha medo de doenças e pestes, não tinha medo das tempestades, frio
e calor. Não tinha medo de nada, porque sabia que Deus me chamara e
possibilitaria que eu cumprisse meu encargo. E com tal fé nada, nem ninguém, me
deteve.
Se você quiser ser um missionário de milagres, um
missionário de poder[7],
precisa aumentar a sua fé em Deus, em Cristo e em você mesmo. Vamos comentar
mais sobre esses frutos durante nossa conversa nos demais capítulos. Mas
lembre-se que os outros conselhos não valerão nada a menos que esse primeiro
seja seguido: você precisa descobrir que
foi chamado pro Deus e, depois, agir conforme esse conhecimento.
Para concluir quero dizer ainda que um missionário
feliz é aquele que compreende o origem de seu chamado e esforça-se para
magnificá-lo. Também que não há missionário
de sucesso que não saiba quem o chamou e porque o chamou e que não se proponha
a realizar tudo quanto sabe ser verdade.
Então a meta que sugiro, que vem atrelada ao meu conselho,
é: busque a confirmação de que você foi chamado por Deus e, depois, viva
segundo esse entendimento. Mas lembre-se que a revelação não é gratuita, nem
barata. O preço é geralmente pago por boas-obras, muita oração e jejum, serviço
e a constância em se guardar convênios santos. Enquanto estiver se empenhando,
a confirmação de seu chamado seguramente virá e você sentirá grande alegria.
[1] O Profeta Joseph Smith disse: “Todo homem que recebe o chamado
para exercer seu ministério a favor dos habitantes do mundo foi ordenado
precisamente para esse propósito no grande conselho dos céus, antes que este
mundo existisse. Suponho que eu tenha sido ordenado a este ofício naquele
grande conselho”. (Ensinamentos do
Profeta Joseph Smith, p. 357); O Presidente Wilford Woodruff disse: "
“Creio que os apóstolos, sumos sacerdotes, setentas e élderes de Israel
portadores do santo sacerdócio foram ordenados antes de virem ao mundo; e creio
que o Deus de Israel os levantou e preservou desde a mocidade, guiando todos os
seus passos na vida, tanto em aspectos visíveis como invisíveis, e preparou-os
como instrumentos em Suas mãos para edificar e apoiar esse reino.” (Journal of Discourses, 21:317). O
Presidente Harold B. Lee disse sobre o assunto: " “Além do chamado
mencionado nas escrituras como ‘preordenação’, temos outra declaração
inspirada: ‘Eis que muitos são chamados, mas poucos são escolhidos’. (D&C
121:34) Isso mostra que embora tenhamos nosso livre-arbítrio aqui, há muitos
que foram preordenados antes da criação do mundo para um estado superior àquele
para o qual se preparam aqui. Ainda que estivessem entre os nobres e grandes,
entre aqueles a quem o Pai disse que chamaria como Seus líderes escolhidos,
eles podem vir a falhar nesse chamado aqui na mortalidade.” (Stand Ye in Holy Places [1974], p. 9)
[2] O Presidente McKay deu renovada ênfase ao trabalho missionário
com essa frase de admoestação, recomendando com insistência a todos os membros
que assumissem o compromisso de trazer pelo menos um membro por ano para a
Igreja. (Ver Conference Report, abr.
1959, p. 122).
[3] O Guia Sempre Fiéis
ensina: " Como membro de AIgreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias,
você é filho do convênio. (Ver 3 Néfi 20:25–26.) Você recebeu o evangelho
eterno e herdou as mesmas promessas feitas a Abraão, Isaque e Jacó. Você tem
direito às bênçãos do sacerdócio e da vida eterna, de acordo com a sua
fidelidade em receber as ordenanças de salvação e do cumprimento dos convênios
associados a esse sacerdócio. Nações da Terra serão abençoadas pelos seus
esforços e pelos labores de sua posteridade." ("Convênio
Abraâmico" pg. 47). O élder Russell M. Nelson disse: "Como filhos do
convênio, somos altamente favorecidos. Foram plantadas em nosso coração as
promessas feitas aos patriarcas Abraão, Isaque e Jacó. O Senhor afirmou:
“Porque sois herdeiros legais segundo a carne e fostes escondidos do mundo com
Cristo, em Deus (…). Portanto bem-aventurados sois se continuais em minha
bondade, uma luz para os gentios; e por meio deste sacerdócio, um salvador para
meu povo, Israel” (D&C 86:9, 11)" ("Salvação e Exaltação", A Liahona, Maio de 2008, pg. 10)
[4] O Élder David A. Bednar disse: "Proclamar o evangelho não é
uma atividade na qual nos envolvemos periódica e temporariamente. Nosso
trabalho como missionários certamente
não se restringe ao curto período de
tempo dedicado ao serviço missionário de tempo integral em nossa juventude ou
em nossa maturidade (...)Meus amados irmãos, vocês e eu, hoje e sempre, devemos
abençoar todos os povos de todas as nações da Terra. Vocês e eu, hoje e sempre,
devemos prestar testemunho de Jesus Cristo e declarar a mensagem da
Restauração. Vocês e eu, hoje e sempre, devemos convidar todos a receberem as
ordenanças de salvação. Proclamar o evangelho não é uma obrigação de tempo
parcial do sacerdócio. Não é simplesmente uma atividade na qual nos engajamos
por um tempo limitado nem uma designação que precisamos completar como membros
da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Mais precisamente, a
obra missionária é uma manifestação da nossa identidade e herança espiritual.
Fomos preordenados na existência pré-mortal e nascemos na mortalidade para
cumprir o convênio e promessa que Deus fez a Abraão. Estamos aqui na Terra
nesta época para magnificar o sacerdócio e para pregar o evangelho. É isso o
que somos, e é por isso que estamos aqui — hoje e sempre."("Tornar-se
um Missionário", A Liahona, Novembro
de 2005, pg. 45 e 47)
[5] Não estou falando aqui do processo espiritual. Há alguns que se
tornam missionários antes de servirem como missionários de tempo integral e
outros que nunca se tornam missionários, mesmo quando são desobrigados
honrosamente de seu serviço de tempo integral. O Élder David A. Bednar afirmou:
" É possível a um rapaz ir para
a missão e não se tornar um
missionário, mas isso não é o que o Senhor requer ou o que a Igreja
precisa." ("Tornar-se um Missionário", A Liahona, Novembro de 2005, pg. 45)
[6] Esse padrão foi seguido pelos filhos de Mosias e Alma, o filho.
Eles foram convidados a mudar e o fizeram. Façamos as seguintes perguntas a nós
mesmos: Experimentamos “uma mudança no coração” (Alma 5:26)? Essa mudança é um
pré-requisito para permitirmos que o Espírito Santo entre em nosso coração.
Lembrem-se que o Senhor disse: “Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir
a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele
comigo.” (Apocalipse 3:20).
[7] O Guia Missionário Pregar
Meu Evangelho ensina: "Juntamente com sua autoridade você assumiu a
responsabilidade de ser digno de seu chamado. Como representante do Senhor,
você deve ser “o exemplo dos fiéis”. (I Timóteo 4:12) Esforce-se para viver de
acordo com os mandamentos de Deus e cumprir os convênios que fez no templo;
conheça as escrituras; seja educado, pontual e digno de confiança; siga os
padrões missionários de conduta, vestuário e aparência; ame as pessoas que você
serve e com quem trabalha. Honre o nome de Cristo com suas ações. Além da
autoridade, você também deve exercer o poder em seu trabalho. A autoridade que
você recebeu pode conduzi-lo ao poder. De fato, o poder espiritual é uma prova
de que sua autoridade é real. O poder espiritual é um dom que lhe possibilita
fazer seu trabalho de modo mais eficaz. Seu poder e autoridade devem ser
evidentes quando você estiver trabalhando e ensinando." ("Meu
Propósito", pg. 4)
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